quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA E O AMOR DE DEUS (parte III)


Uma coisa é uma coisa... outra coisa é outra coisa! Filosofia barata, eu sei! Aliás, não sei quem disse isso. Mas serve para o que busco neste último artigo da presente série. Sentimento humano de tristeza, pesar, lamento pela trágica morte de quase duzentas e cinquenta pessoas, maioria jovens, em Santa Maria/RS é absolutamente normal e compreensível.  Junto-me aos milhões que estão sofrendo e indignados ao redor do mundo e, principalmente, aos familiares enlutados. Isso é uma coisa! Questionar o amor de Deus e tentar culpa-lo pela tragédia... bem, isso é outra coisa! Como já disse, tenho orado diariamente pelo consolo de todos que sofrem nestes instantes.

Entretanto há “irmãos” cristãos de diversas etiologias de fé que asseveram coisas absurdas. São pessoas que se acham “espiritualistas e espiritualizadas” demais. Cristãos que tem um enfoque completamente equivocado. Ou por falta de conhecimento bíblico-teológico, ou por ignorância simplesmente, ou, talvez, por má fé mesmo. Isso não importa. Mas, não posso deixar de andar por tal meandro; ou mesmo por esse caminho ínvio. Não tenho medo de afirmar que, muitas vezes, o carregamento é de religiosidade preconceituosa. Outras vezes, as insinuações espiritualistas dão-se por proselitismo torto e sem compaixão.

Uns colocam a culpa em satanás. Outros a colocam em Deus. Por que é que “o capeta” tem que ser culpado? Tem ele esse poder? Seria ele “soberano” a tal ponto? Estude, ao menos, o livro de Jó. Seu poder e atuação sofrem restrições do próprio Deus. Outros entendem que é Deus trazendo Seu juízo irado sobre jovens que estavam se esbaldando, pecando, consumindo álcool, drogas e sexo. São “teólogos” que se metem a “besta” confundindo o Deus que é amor do Novo Testamento, com as ações específicas de Deus no Velho Testamento, onde tinha objetivos específicos em uma humanidade em formação, a quem estava se revelando progressivamente, até que chegasse ao “Deus da Graça”, através de Jesus Cristo.

Biblicamente falando, às vezes, o sofrimento é punitivo. Outras vezes é apenas provação passageira para lapidar o cristão. Outras vezes são fatores naturais aos quais todos os seres humanos estão sujeitos simplesmente. Mas a discussão disso não é o propósito aqui. Precisariam muitos livros – e já há em demasia – para se estudar todos os lados da questão. Isso não importa agora. O importante a saber é que as tragédias estão aí e ninguém pode ou tem o direito de julgar de quem é a culpa. Diria que é uma série de fatores que, quase sempre, extrapola à compreensão humana. Portanto, sem julgamentos. Uma coisa sei: Deus sabe de todos os porquês! Se Ele quiser revelar... Ele o fará. Se não quiser... Ele é soberano (veja Deuteronômio 29:29).

Ouvi e li de pessoas aparentemente esclarecidas teologicamente, que se põem a criticar Lady Gaga que se deixou fotografar fazendo uma prece pelo consolo dos enlutados.  Afinal, uma pessoa “não cristã e do mundo” não tem o direito de sentir tristeza e orar ou rezar pelas pessoas enlutadas? Não estariam esses “cristãos” fazendo muito melhor se fossem, também, solidários e orassem a Deus pedindo consolo aos familiares? Afinal, “... a oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tiago 5:16c). É preciso parar com a mania cristã de “julgar as pessoas”. Isso é tarefa de Deus que conhece cada coração. Ao invés de crítica... as pessoas precisam de consolo e ajuda. Isso é amor em ação. Quem fala o que não deve, mesmo – e principalmente - como cristão, precisa ler, reler e estudar Tiago 3, sobre o “domínio sobre a língua”. Há horas em que a verdade tem que ser dita “nua e crua”. Há horas em que se deve calar; principalmente diante de dor tão lancinante quanto à perda de entes queridos de forma tão macabra e sem sentido.

Já que falei acima de se estudar Jó, completo: o que é que fizeram os “santos religiosos” amigos de Jó, diante da sua incurável e quase insuportável dor? Agiram como se fossem advogados de Deus, sem dEle terem recebido procuração. Veja que esses “cristãos amigos” de Jó, receberam tremenda reprimenda do próprio Deus.

Começo a pensar nos púlpitos evangélicos! Vejo a maior parte dos programas televisivos (bobagem pura, quase todos). Visito amiúde igrejas para saber o que se anda pregando. É de chorar amargamente! A maior parte dos cultos, músicas, mensagens são pândegos. Não passam de catarses emocionais em nome de Deus. As pessoas recebem na veia injeção de espiritualidade (sic) e saem eufóricas. E tudo se acaba na primeira esquina da crise. As pessoas não são ensinadas para encarar a vida e o mundo como ele realmente é: “no mundo tereis aflições” (João 16:33).  Há uma enxurrada de “teologias” alheias à Bíblia, principalmente a da famigerada “prosperidade”.  Um passeio pelas letras dos hinos e hinetos produzidos nos últimos tempos dá a certeza da mediocridade teológica em que estão chafurdados os “levitas” modernos (Que barbaridade). Deus vai pedir contas. Triunfalismo puro e barato... e feito em nome de Deus! Outras vezes dando ordens a Deus!

Até parece que tragédias já não aconteceram em “templos evangélicos”. Busque na internet e vai descobrir quantas tragédias aconteceram nos arraiais evangélicos. Quantos tetos já desabaram? Quantos acidentes com ônibus aconteceram? Foi Deus ou o diabo o culpado? Ora, é preciso levar a coisa a sério. Deus não é brinquedo que se conduza ao prazer de “ventos de doutrinas” espiritualizadas.

O Brasil está de luto novamente. Comoção nacional. Dor e mais dor. O que fazer com ela? Que lições se podem tirar? Quem ou quais os culpados? Ora bolas... culpados vão aparecer (quase nunca os verdadeiros). Mas, o que importa isso? Vai apagar a dor da tragédia? Jamais. O que importa é: o que fazer para que se evitem novas tragédias? Nada adianta culpar este ou aquele. As lições é que são importantes. E elas precisam ser aprendidas.

Se isso serve de consolo... Jesus também chorou. Chorou ao ver o estado deplorável da vida espiritual de Jerusalém. Chorou ao ver a tristeza e o pranto de Marta e Maria por ocasião da morte de Lázaro, irmão delas. Ele deu o exemplo. Ao sentir o choro da irmã do morto e dos amigos presentes comoveu-se, foi até as lágrimas (João 11:33-36).

Igreja de Jesus Cristo... ouvi! O mundo não receberá o impacto espiritual que necessita, enquanto a igreja não voltar à Bíblia. À sua mensagem pura e divina. Sem profetismo, sem triunfalismo, sem apostolicismo, sem teologias ocas e vazias e que não produzem cristãos de têmpera e, ao mesmo tempo, com coração de carne e não de pedra.  Chorai com os que choram, ensina Jesus.  O mundo real está lá no vale das tribulações, dos problemas, das tragédias. Não está no enclausuramento, na montanha, nos retiros. O mundo real está no vale e chora.  Chore com o mundo e providencie, em Deus, o consolo que realmente ele necessita: o evangelho da cruz de Cristo, que transforma e dá vida.  Junto-me... triste, taciturno, aos milhões de entristecidos pela tragédia. Que aprendamos a evitar tais tragédias. Que Deus, no seu amor absoluto nos console a todos. Principalmente aos enlutados de Santa Maria/RS. Nisto eu creio. Amém.





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