segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

GÓLGOTA: EU ESTAVA LÁ


Entendo eu que a igreja de Cristo estará fadada à morte definitiva quando a doutrina da reconciliação for extirpada do cristianismo. E não há doutrina de reconciliação, sem que a “Cruz de Cristo” esteja no centro. Cristo e a Sua cruz são interligados, amalgamados. Todo o projeto de salvação, por parte de Deus, foi colocado ali... na Cruz! Não vou fazer exegese doutrinária sobre o assunto. Quero ser prático e pastoral na reflexão de hoje. Basta que se parta da inequívoca verdade bíblica de que o cristianismo só é cristianismo, se centrado for na Cruz de Cristo e no Cristo da Cruz e Sua ressurreição. Vou ser pessoal.

Separe algum tempo e mergulhe em águas mais profundas em Romanos 5, principalmente os versos 8-10. Romanos é uma carta doutrinária. Pesada. Profunda. Excepcional. Foi escrita para doutrinar e interpretar Cristo. A carta faz um passeio por temas como justiça de Deus, fé como veículo de salvação, conflito entre a velha e a nova natureza, eleição, predestinação, justificação, glorificação, segurança eterna da salvação. Todavia, todos eles giram em torno do tema central: a salvação. Não vejo em qualquer lugar da carta a salvação como é ensinada hodiernamente na maioria das igrejas: mero perdão de pecados ou uma viagem faceira ao céu. Paulo define a salvação como uma “metanóia” onde a pessoa se torna, obrigatoriamente,  “uma nova criatura completa”. Fica claro que não há salvação sem o “senhorio de Cristo”.

Jesus não morreu, mas foi morto. Para os romanos, Sua mensagem era revolucionária, portanto a acusação foi política. Nos tribunais rabínicos judaicos a acusação foi teológica. Era tido, pelos romanos, como ameaça: insuflava a sedição. Pelos judeus, acusado foi de blasfêmia por se dizer Deus. A Bíblia diz que Ele não era culpado. Mas, foi condenado e morto. De quem a culpa? Você pode acusar os soldados romanos que executaram a sentença. Isso é verdade... mas, não a verdade verdadeira. Você pode acusar os religiosos legalistas judeus que insuflaram Pilatos. Isso, também, é verdade. Mas não a verdade verdadeira. Pode até ser que você acuse Judas. Afinal, era seu discípulo e O traiu. Traidor é traidor... e sempre culpado. Bem, isso é verdade... mas, não a verdade verdadeira.

Autoridades romanas e judaicas, os soldados, o povo judeu, Judas, Pilatos! Todos tem sua parcela de culpa. Sempre fazemos a mesma pergunta cínica de Pilatos: “Que mal fez Ele?”. Afinal, Jesus curou doenças, curou as feridas da alma, ressuscitou a mortos, multiplicou pães e peixes para saciar multidões. Quem é o culpado? Lá no fundo podemos encontrar desculpas para todos eles. Afinal, os soldados eram mandados; as autoridades romanas temiam perder o poderio e o controle; os religiosos sacerdotes e escribas esperavam um Messias bélico; Judas também, afinal era um zelote; Pilatos era representante de Roma.
Sempre – e isso é natural – há de se encontrar desculpas para eles. Por quê? Porque vemos a nós mesmos neles! Gostaríamos de nos desculpar, também. E, se eu e você estivéssemos lá? O que faríamos? Não tenho dúvida de que faríamos, também, a mesma coisa. 

Aliás, o fizemos! Cada vez que qualquer ser humano se desvia de receber a Cristo como Senhor; ou se nega, como cristão, a ser semelhante a Ele e carregar a sua própria cruz... O está crucificando. Ele é crucificado diariamente por cristãos que são gananciosos por dinheiro... como Judas. Ele é crucificado por inveja... como as autoridades religiosas judaicas. Ele é crucificado por ambição... como fez Pilatos. Ele é crucificado por obediência legalista... como fizeram os soldados romanos. Como todos eles... EU ESTAVA LÁ! Não fui apenas espectador... fui participante. Não posso, como Pilatos, lavar as minhas mãos. Simplesmente há sangue nelas. Não há como tirar a minha responsabilidade. Não há como qualquer cristão eximir-se da responsabilidade. Há sangue nas mãos de todos. Foram os meus pecados que, também, colocaram Cristo na Cruz. Por isso, a cruz de Cristo e o Cristo que venceu a morte na cruz, por mim e por nós, tem que ser o centro absoluto da minha adoração e da minha vida cristã em ação. E vida cristã não é feita de lábios, de cânticos espirituais ou não, nem de orações emocionais. É feita de vida, de ação, de amor, de senhorio de Cristo na minha vida. Ele, pela cruz, é meu dono e Senhor. Sou apenas escravo, e nada mais.

Por isso, antes de pensar na cruz como algo feito para nos levar à fé e adoração, tenho que vê-la como algo feito por nós e, por isso, precisa levar ao arrependimento.  Sem a coragem de aceitar a parcela de culpa na morte de Cristo, ninguém pode reivindicar sua parte na “graça de Cristo”.

É preciso entender que o verdadeiro cristão é ex-escravo de satanás. Saiu de uma escravidão para entrar em outra: a de Cristo. Afinal, Jesus comprou cada um pelo alto preço do Seu sangue e fez, a todos os comprados, Seus servos, escravos.  Por mais paradoxal que possa parecer... é isso mesmo. Mas, que feliz é o escravo de Cristo. Liberto de satanás para a liberdade em Cristo. Vale a pena essa escravidão. Ela traz e leva:  paz, felicidade, amor, justiça, santificação. Amém!

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