Entendo eu que a igreja de Cristo estará fadada à morte
definitiva quando a doutrina da reconciliação for extirpada do cristianismo. E
não há doutrina de reconciliação, sem que a “Cruz de Cristo” esteja no centro.
Cristo e a Sua cruz são interligados, amalgamados. Todo o projeto de salvação,
por parte de Deus, foi colocado ali... na Cruz! Não vou fazer exegese
doutrinária sobre o assunto. Quero ser prático e pastoral na reflexão de hoje.
Basta que se parta da inequívoca verdade bíblica de que o cristianismo só é
cristianismo, se centrado for na Cruz de Cristo e no Cristo da Cruz e Sua
ressurreição. Vou ser pessoal.
Separe algum tempo e mergulhe em águas mais profundas em
Romanos 5, principalmente os versos 8-10. Romanos é uma carta doutrinária.
Pesada. Profunda. Excepcional. Foi escrita para doutrinar e interpretar Cristo.
A carta faz um passeio por temas como justiça de Deus, fé como veículo de
salvação, conflito entre a velha e a nova natureza, eleição, predestinação,
justificação, glorificação, segurança eterna da salvação. Todavia, todos eles
giram em torno do tema central: a salvação. Não vejo em qualquer lugar da carta
a
salvação como é ensinada hodiernamente na maioria das igrejas: mero
perdão de pecados ou uma viagem faceira ao céu. Paulo define a salvação como
uma “metanóia” onde a pessoa se torna, obrigatoriamente, “uma nova criatura completa”. Fica claro que
não há salvação sem o “senhorio de Cristo”.
Jesus não morreu, mas foi morto. Para os romanos, Sua
mensagem era revolucionária, portanto a acusação foi política. Nos tribunais
rabínicos judaicos a acusação foi teológica. Era tido, pelos romanos, como
ameaça: insuflava a sedição. Pelos judeus, acusado foi de blasfêmia por se
dizer Deus. A Bíblia diz que Ele não era culpado. Mas, foi condenado e morto.
De quem a culpa? Você pode acusar os soldados romanos que executaram a
sentença. Isso é verdade... mas, não a verdade verdadeira. Você pode acusar os
religiosos legalistas judeus que insuflaram Pilatos. Isso, também, é verdade.
Mas não a verdade verdadeira. Pode até ser que você acuse Judas. Afinal, era
seu discípulo e O traiu. Traidor é traidor... e sempre culpado. Bem, isso é
verdade... mas, não a verdade verdadeira.
Autoridades romanas e judaicas, os soldados, o povo judeu,
Judas, Pilatos! Todos tem sua parcela de culpa. Sempre fazemos a mesma pergunta
cínica de Pilatos: “Que mal fez Ele?”. Afinal, Jesus curou doenças, curou as
feridas da alma, ressuscitou a mortos, multiplicou pães e peixes para saciar
multidões. Quem é o culpado? Lá no fundo podemos encontrar desculpas para todos
eles. Afinal, os soldados eram mandados; as autoridades romanas temiam perder o
poderio e o controle; os religiosos sacerdotes e escribas esperavam um Messias
bélico; Judas também, afinal era um zelote; Pilatos era representante de Roma.
Sempre – e isso é natural – há de se encontrar desculpas para
eles. Por quê? Porque vemos a nós mesmos neles! Gostaríamos de nos desculpar,
também. E, se eu e você estivéssemos lá? O que faríamos? Não tenho dúvida de
que faríamos, também, a mesma coisa.
Aliás, o fizemos! Cada vez que qualquer ser humano se desvia
de receber a Cristo como Senhor; ou se nega, como cristão, a ser semelhante a
Ele e carregar a sua própria cruz... O está crucificando. Ele é crucificado
diariamente por cristãos que são gananciosos por dinheiro... como Judas. Ele é
crucificado por inveja... como as autoridades religiosas judaicas. Ele é
crucificado por ambição... como fez Pilatos. Ele é crucificado por obediência
legalista... como fizeram os soldados romanos. Como todos eles... EU
ESTAVA LÁ! Não fui apenas espectador... fui participante. Não posso,
como Pilatos, lavar as minhas mãos. Simplesmente há sangue nelas. Não há como
tirar a minha responsabilidade. Não há como qualquer cristão eximir-se da
responsabilidade. Há sangue nas mãos de todos. Foram os meus pecados que,
também, colocaram Cristo na Cruz. Por isso, a cruz de Cristo e o Cristo que
venceu a morte na cruz, por mim e por nós, tem que ser o centro absoluto da
minha adoração e da minha vida cristã em ação. E vida cristã não é feita de
lábios, de cânticos espirituais ou não, nem de orações emocionais. É feita de
vida, de ação, de amor, de senhorio de Cristo na minha vida. Ele, pela cruz, é
meu dono e Senhor. Sou apenas escravo, e nada mais.
Por isso, antes de pensar na cruz como algo feito para nos
levar à fé e adoração, tenho que vê-la como algo feito por nós e, por isso,
precisa levar ao arrependimento. Sem a
coragem de aceitar a parcela de culpa na morte de Cristo, ninguém pode
reivindicar sua parte na “graça de Cristo”.
É preciso entender que o verdadeiro cristão é ex-escravo de
satanás. Saiu de uma escravidão para entrar em outra: a de Cristo. Afinal,
Jesus comprou cada um pelo alto preço do Seu sangue e fez, a todos os
comprados, Seus servos, escravos. Por
mais paradoxal que possa parecer... é isso mesmo. Mas, que feliz é o escravo de
Cristo. Liberto de satanás para a liberdade em Cristo. Vale a pena essa
escravidão. Ela traz e leva: paz, felicidade, amor, justiça, santificação.
Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário