Sou ser humano. Tenho coração e sentimentos. Dói-me, e muito,
o sofrimento causado em tantas famílias em função de tamanha tragédia. Eu e
minha esposa temos orado, todos os dias, para que cada família, cada pessoa
enlutada seja consolada pelo Espírito Santo de Deus. Nada mais há a fazer pelos
mortos. Sofrem os vivos... e muito. Como ser humano, junto-me a tristeza de
todos.
Todavia, não posso me furtar saber separar o fato da tragédia
e o fato do amor de Deus. Conhecedor da Palavra de Deus (nem tanto quanto
preciso, e ou, gostaria), tenho que saber separar as coisas. E a melhor fonte
que conheço é a Bíblia; afinal, ela é a Palavra de Deus. Nisto creio! E isso é
definitivo. Volto a ela, pois.
Coloquei no artigo anterior, aquilo que enfatizou João, o
apóstolo do amor. Quero me prender um pouco ao apóstolo Paulo. O primeiro texto
que me vem à mente é: “... Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio
do Espírito
Santo que ele nos concedeu” (Romanos 5:5 NVI). O
segundo é: “Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em
nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Romanos 5:8 NVI). Veja algo fantástico na junção desses dois
textos.
A obra conjunta do Filho e do Espírito é notória. Como é que
Deus prova seu amor para conosco? Pelo fato histórico de que Seu Filho morreu
em nosso lugar e, também, porque Seu amor é derramado continuamente, por meio
do Espírito Santo, que habita dentro em nós. Verdade é que Ele só habita no
coração daqueles que O receberam como Salvador e Senhor. E é isso que faz toda
a diferença, segundo a Palavra de Deus. A demonstração do Seu amor por mim e
por você vem pelo fato de ter dado Cristo para morrer em nosso favor (Rm. 5:8).
E isso se torna ainda mais profundo na percepção da Trindade. Na verdade, Deus
não poupando Seu próprio Filho, não estava poupando o Seu próprio Ser. Estou
enfatizando a verdade do que é o amor de Deus, para diferenciá-lo do amor
humano.
Tragédias e mais tragédias tem acontecido no mundo todo.
Centenas e milhares de pessoas enlutadas, tristes, chorosas todos os dias, em
todos os lugares, independentemente de quaisquer tragédias. O número de mortos
de uma só vez é que produz a comoção, como em todas as outras tragédias
trazidas à tona pela mídia nestes dias. Basta percorrer os baixos de qualquer
viaduto em qualquer cidade. Basta adentrar em qualquer favela de qualquer
cidade. Basta parar em qualquer esquina cruel de qualquer beco. Basta olhar os
rostos esquálidos de crianças em frente a qualquer vitrine de qualquer restaurante.
Basta visitar quaisquer hospitais em qualquer lugar do mundo. Basta olhar para
a criança suja da minha rua. Basta olhar para as meninas - e meninos também -
que são estupradas diariamente, inclusive nas igrejas. Bem... a lista iria
longe. As pequenas e individuais tragédias não comovem. Só as grandes. Mas... grandes ou pequenas, coletivas ou
individuais; sempre haverá um coração sangrando, uma lágrima caindo, um
sentimento de dor, e ou, de revolta. Antes de perguntar sobre o que Deus está
fazendo... eu preciso perguntar: o que é que eu estou fazendo para minorar
isso? Que tipo de amor eu tenho que só me comovo em grandes tragédias? Por que
não me comovo com as tragédias particulares que estão ao meu redor no
dia-a-dia? Por que nestas pequenas eu não pergunto onde “Deus está?”. Deus já provou o Seu imenso amor para comigo
e para com a humanidade.
As leis da natureza estão aí e são imutáveis. O homem depreda
a natureza, o meio ambiente, o espaço, as águas e não se pergunta: por que faço
isso? Não tenho amor pela natureza e pelas pessoas que sofrerão pelas minhas
ações? Os homens constroem verdadeiros
labirintos sem escape – e ainda cobram caro -; e ninguém pergunta: essas
pessoas não amam? O que é amor ao próximo? As pessoas adentram a esses labirintos
buscando diversão, alegria fugaz, bebidas e drogas... sem o devido cuidado de
verificar as possibilidades de tragédia, e ninguém pergunta se elas amam a si
próprias. Ninguém, ninguém mesmo – e eu sou o primeiro a me incluir – está
imune a acidentes, incidentes e tragédias. Mas, a pergunta não pode ser: onde
está o amor de Deus. Ele já deu todas as provas do Seu amor. E isso é
definitivo.
Concretamente, ninguém está pronto para qualquer tipo de
tragédia. E a da cidade de Santa Maria não é diferente. Insuflados pela mídia
ávida por audiência, as pessoas são levadas a mais comoção e, não poucas vezes,
a atitudes que nunca teriam em outras circunstâncias. Não há como não refletir
sob todos os ângulos possíveis da tragédia; mas poucos refletem sobre a brevidade
da vida, como afirmou Moisés, no salmo 90. Questionamentos infindos surgem nos
momentos de tragédias. Questionamentos que são logo esquecidos... menos pelas
pessoas que passaram pelo centro da dor com a perda de pessoas queridas. Dentre
esses questionamentos sempre há aqueles que perguntam: onde está Deus e Seu
amor nessa hora? É o humano questionando o divino. É o mortal questionando o
eterno. É o pecador questionando o Santo. É a criatura questionando o Criador.
Seria isso possível?
Vou voltar até a cruz. No momento de maior angústia de Cristo,
derramando suor de sangue Ele questiona o Pai: Por que me abandonou Pai? Não
vou entrar em qualquer exegese teológica. Aqui não é o lugar. Qual foi a
resposta do Pai? O que Deus disse ao Seu Filho amado? Nada! Absolutamente nada.
Ele fez o que tinha que fazer.
Li, faz poucas horas, um artigo de Alan César Corrêa. Não o
conheço, mas gostei do artigo. Faço menção porque ele conta uma história que
não tive como checar. Mas, ilustra uma verdade sobre o tema. A história é sobre
Clive Staples Lewis (C.S. Lewis). Lewis é uma das minhas leituras prediletas. Segundo
o artigo, conta-se que Lewis adoeceu gravemente. Seu enfermeiro disse que
queria perguntar a Deus o porquê do sofrimento terrível que Lewis estava
passando. O enfermeiro sabia que Lewis era cristão, amava a Deus, era bondoso e
ajudava muito a outras pessoas. Então, Lewis, virando-se para seu enfermeiro
teria dito: - Sabe o que Deus vai te responder? – Não, respondeu! Então, Lewis
assevera categoricamente: - Deus vai te responder: ‘O que te importa’? O que é
que Lewis estava dizendo?
Estava dizendo que a vontade de Deus é “boa, agradável e
perfeita” (Romanos 12:2) e soberana. E o autor do artigo arremata: “ - ...
achava que todo mundo que tivesse fé tinha direito a um milagre, mas vi muita
gente de fé sofrer, hoje eu sei que o milagre é exceção e está muito mais
relacionado com a vontade de Deus do que com minha fé, e que por mais que eu
tenha fé, essa fé não pode mudar Sua vontade, pois Sua vontade é melhor do que
a minha”. Concordo plenamente.
É perder tempo procurar por respostas. Deus está acima de
tudo e de todos... e, ao mesmo tempo, Ele está aqui, dentro em mim, pela ação
do Seu santo Espírito, que me consola, me alimenta e me ajuda a prosseguir
confiante de que Seu amor extravasa qualquer sentimento, pois já foi provado na
cruz e, a cada dia, seu Espírito derrama no meu coração a certeza de que o Amor
de Deus é O AMOR VERDADEIRO.
Então, vou amar mais a meus irmãos, vou amar mais ao meu
próximo, vou estender a mão a quem eu puder fazê-lo; vou colher mais flores,
vou fazer mais poesia, vou abraçar mais, vou chorar com os que choram, vou me
alegrar com quem estiver alegre, vou ficar em silêncio com quem estiver em
silêncio, vou cantar com quem estiver cantando e vou, acima de tudo, amar mais
a meu Deus, servindo-o com tudo que sou e possuo; pois Ele demonstrou Seu
imenso amor por mim, quando Jesus, Seu Filho amado, morreu na cruz.
Para encerrar o artigo de hoje, convido você a ler a terceira
parte amanha. E com o terceiro artigo eu encerro – pelo menos para mim – o
assunto. E por que vou escrever mais um? Por que não quero deixar dúvidas sobre
meus sentimentos sobre a tragédia. Nestes dois primeiros quis, apenas, mostrar
biblicamente que o AMOR DE DEUS não pode ser questionado em meio a comoções de
tragédias coletivas ou individuais. Mas, não posso compactuar com posições
evangélicas espiritualistas e espiritualizadas que tenho lido alhures. Então,
até amanhã. Amém.
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