quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA E O AMOR DE DEUS (parte II)

Sou ser humano. Tenho coração e sentimentos. Dói-me, e muito, o sofrimento causado em tantas famílias em função de tamanha tragédia. Eu e minha esposa temos orado, todos os dias, para que cada família, cada pessoa enlutada seja consolada pelo Espírito Santo de Deus. Nada mais há a fazer pelos mortos. Sofrem os vivos... e muito. Como ser humano, junto-me a tristeza de todos.

Todavia, não posso me furtar saber separar o fato da tragédia e o fato do amor de Deus. Conhecedor da Palavra de Deus (nem tanto quanto preciso, e ou, gostaria), tenho que saber separar as coisas. E a melhor fonte que conheço é a Bíblia; afinal, ela é a Palavra de Deus. Nisto creio! E isso é definitivo. Volto a ela, pois.

Coloquei no artigo anterior, aquilo que enfatizou João, o apóstolo do amor. Quero me prender um pouco ao apóstolo Paulo. O primeiro texto que me vem à mente é: “... Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu” (Romanos 5:5 NVI). O segundo é: “Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Romanos 5:8 NVI).  Veja algo fantástico na junção desses dois textos.

A obra conjunta do Filho e do Espírito é notória. Como é que Deus prova seu amor para conosco? Pelo fato histórico de que Seu Filho morreu em nosso lugar e, também, porque Seu amor é derramado continuamente, por meio do Espírito Santo, que habita dentro em nós. Verdade é que Ele só habita no coração daqueles que O receberam como Salvador e Senhor. E é isso que faz toda a diferença, segundo a Palavra de Deus. A demonstração do Seu amor por mim e por você vem pelo fato de ter dado Cristo para morrer em nosso favor (Rm. 5:8). E isso se torna ainda mais profundo na percepção da Trindade. Na verdade, Deus não poupando Seu próprio Filho, não estava poupando o Seu próprio Ser. Estou enfatizando a verdade do que é o amor de Deus, para diferenciá-lo do amor humano.

Tragédias e mais tragédias tem acontecido no mundo todo. Centenas e milhares de pessoas enlutadas, tristes, chorosas todos os dias, em todos os lugares, independentemente de quaisquer tragédias. O número de mortos de uma só vez é que produz a comoção, como em todas as outras tragédias trazidas à tona pela mídia nestes dias. Basta percorrer os baixos de qualquer viaduto em qualquer cidade. Basta adentrar em qualquer favela de qualquer cidade. Basta parar em qualquer esquina cruel de qualquer beco. Basta olhar os rostos esquálidos de crianças em frente a qualquer vitrine de qualquer restaurante. Basta visitar quaisquer hospitais em qualquer lugar do mundo. Basta olhar para a criança suja da minha rua. Basta olhar para as meninas - e meninos também - que são estupradas diariamente, inclusive nas igrejas. Bem... a lista iria longe. As pequenas e individuais tragédias não comovem. Só as grandes.  Mas... grandes ou pequenas, coletivas ou individuais; sempre haverá um coração sangrando, uma lágrima caindo, um sentimento de dor, e ou, de revolta. Antes de perguntar sobre o que Deus está fazendo... eu preciso perguntar: o que é que eu estou fazendo para minorar isso? Que tipo de amor eu tenho que só me comovo em grandes tragédias? Por que não me comovo com as tragédias particulares que estão ao meu redor no dia-a-dia? Por que nestas pequenas eu não pergunto onde “Deus está?”.  Deus já provou o Seu imenso amor para comigo e para com a humanidade.

As leis da natureza estão aí e são imutáveis. O homem depreda a natureza, o meio ambiente, o espaço, as águas e não se pergunta: por que faço isso? Não tenho amor pela natureza e pelas pessoas que sofrerão pelas minhas ações?  Os homens constroem verdadeiros labirintos sem escape – e ainda cobram caro -; e ninguém pergunta: essas pessoas não amam? O que é amor ao próximo? As pessoas adentram a esses labirintos buscando diversão, alegria fugaz, bebidas e drogas... sem o devido cuidado de verificar as possibilidades de tragédia, e ninguém pergunta se elas amam a si próprias. Ninguém, ninguém mesmo – e eu sou o primeiro a me incluir – está imune a acidentes, incidentes e tragédias. Mas, a pergunta não pode ser: onde está o amor de Deus. Ele já deu todas as provas do Seu amor. E isso é definitivo.

Concretamente, ninguém está pronto para qualquer tipo de tragédia. E a da cidade de Santa Maria não é diferente. Insuflados pela mídia ávida por audiência, as pessoas são levadas a mais comoção e, não poucas vezes, a atitudes que nunca teriam em outras circunstâncias. Não há como não refletir sob todos os ângulos possíveis da tragédia; mas poucos refletem sobre a brevidade da vida, como afirmou Moisés, no salmo 90. Questionamentos infindos surgem nos momentos de tragédias. Questionamentos que são logo esquecidos... menos pelas pessoas que passaram pelo centro da dor com a perda de pessoas queridas. Dentre esses questionamentos sempre há aqueles que perguntam: onde está Deus e Seu amor nessa hora? É o humano questionando o divino. É o mortal questionando o eterno. É o pecador questionando o Santo. É a criatura questionando o Criador. Seria isso possível?

Vou voltar até a cruz. No momento de maior angústia de Cristo, derramando suor de sangue Ele questiona o Pai: Por que me abandonou Pai? Não vou entrar em qualquer exegese teológica. Aqui não é o lugar. Qual foi a resposta do Pai? O que Deus disse ao Seu Filho amado? Nada! Absolutamente nada. Ele fez o que tinha que fazer.

Li, faz poucas horas, um artigo de Alan César Corrêa. Não o conheço, mas gostei do artigo. Faço menção porque ele conta uma história que não tive como checar. Mas, ilustra uma verdade sobre o tema. A história é sobre Clive Staples Lewis (C.S. Lewis). Lewis é uma das minhas leituras prediletas. Segundo o artigo, conta-se que Lewis adoeceu gravemente. Seu enfermeiro disse que queria perguntar a Deus o porquê do sofrimento terrível que Lewis estava passando. O enfermeiro sabia que Lewis era cristão, amava a Deus, era bondoso e ajudava muito a outras pessoas. Então, Lewis, virando-se para seu enfermeiro teria dito: - Sabe o que Deus vai te responder? – Não, respondeu! Então, Lewis assevera categoricamente: - Deus vai te responder: ‘O que te importa’? O que é que Lewis estava dizendo?

Estava dizendo que a vontade de Deus é “boa, agradável e perfeita” (Romanos 12:2) e soberana. E o autor do artigo arremata: “ - ... achava que todo mundo que tivesse fé tinha direito a um milagre, mas vi muita gente de fé sofrer, hoje eu sei que o milagre é exceção e está muito mais relacionado com a vontade de Deus do que com minha fé, e que por mais que eu tenha fé, essa fé não pode mudar Sua vontade, pois Sua vontade é melhor do que a minha”. Concordo plenamente.

É perder tempo procurar por respostas. Deus está acima de tudo e de todos... e, ao mesmo tempo, Ele está aqui, dentro em mim, pela ação do Seu santo Espírito, que me consola, me alimenta e me ajuda a prosseguir confiante de que Seu amor extravasa qualquer sentimento, pois já foi provado na cruz e, a cada dia, seu Espírito derrama no meu coração a certeza de que o Amor de Deus é O AMOR VERDADEIRO.

Então, vou amar mais a meus irmãos, vou amar mais ao meu próximo, vou estender a mão a quem eu puder fazê-lo; vou colher mais flores, vou fazer mais poesia, vou abraçar mais, vou chorar com os que choram, vou me alegrar com quem estiver alegre, vou ficar em silêncio com quem estiver em silêncio, vou cantar com quem estiver cantando e vou, acima de tudo, amar mais a meu Deus, servindo-o com tudo que sou e possuo; pois Ele demonstrou Seu imenso amor por mim, quando Jesus, Seu Filho amado, morreu na cruz.

Para encerrar o artigo de hoje, convido você a ler a terceira parte amanha. E com o terceiro artigo eu encerro – pelo menos para mim – o assunto. E por que vou escrever mais um? Por que não quero deixar dúvidas sobre meus sentimentos sobre a tragédia. Nestes dois primeiros quis, apenas, mostrar biblicamente que o AMOR DE DEUS não pode ser questionado em meio a comoções de tragédias coletivas ou individuais. Mas, não posso compactuar com posições evangélicas espiritualistas e espiritualizadas que tenho lido alhures. Então, até amanhã.  Amém.


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