Uma coisa é uma coisa... outra coisa é outra coisa! Filosofia barata, eu sei! Aliás,
não sei quem disse isso. Mas serve para o que busco neste último artigo da
presente série. Sentimento humano de tristeza, pesar, lamento pela trágica
morte de quase duzentas e cinquenta pessoas, maioria jovens, em Santa Maria/RS
é absolutamente normal e compreensível.
Junto-me aos milhões que estão sofrendo e indignados ao redor do mundo
e, principalmente, aos familiares enlutados. Isso é uma coisa!
Questionar o amor de Deus e tentar culpa-lo pela tragédia... bem, isso
é outra coisa! Como já disse, tenho orado diariamente pelo consolo de
todos que sofrem nestes instantes.
Entretanto há “irmãos” cristãos de diversas etiologias de fé
que asseveram coisas absurdas. São pessoas que se acham “espiritualistas e
espiritualizadas” demais. Cristãos que tem um enfoque completamente equivocado.
Ou por falta de conhecimento bíblico-teológico, ou por ignorância simplesmente,
ou, talvez, por má fé mesmo. Isso não importa. Mas, não posso deixar de andar
por tal meandro; ou mesmo por esse caminho ínvio. Não tenho medo de afirmar
que, muitas vezes, o carregamento é de religiosidade preconceituosa. Outras
vezes, as insinuações espiritualistas dão-se por proselitismo torto e sem
compaixão.
Uns colocam a culpa em satanás. Outros a colocam em Deus. Por
que é que “o capeta” tem que ser culpado? Tem ele esse poder? Seria ele
“soberano” a tal ponto? Estude, ao menos, o livro de Jó. Seu poder e atuação
sofrem restrições do próprio Deus. Outros entendem que é Deus trazendo Seu
juízo irado sobre jovens que estavam se esbaldando, pecando, consumindo álcool,
drogas e sexo. São “teólogos” que se metem a “besta” confundindo o Deus que é
amor do Novo Testamento, com as ações específicas de Deus no Velho Testamento,
onde tinha objetivos específicos em uma humanidade em formação, a quem estava
se revelando progressivamente, até que chegasse ao “Deus da Graça”, através de
Jesus Cristo.
Biblicamente falando, às vezes, o sofrimento é punitivo.
Outras vezes é apenas provação passageira para lapidar o
cristão. Outras vezes são fatores naturais aos quais todos os
seres humanos estão sujeitos simplesmente. Mas a discussão disso não é o
propósito aqui. Precisariam muitos livros – e já há em demasia – para se
estudar todos os lados da questão. Isso não importa agora. O importante a saber
é que as tragédias estão aí e ninguém pode ou tem o direito de julgar de quem é
a culpa. Diria que é uma série de fatores que, quase sempre, extrapola à
compreensão humana. Portanto, sem julgamentos. Uma coisa sei: Deus
sabe de todos os porquês! Se Ele quiser revelar... Ele o fará. Se não
quiser... Ele é soberano (veja Deuteronômio 29:29).
Ouvi e li de pessoas aparentemente esclarecidas
teologicamente, que se põem a criticar Lady Gaga que se deixou fotografar
fazendo uma prece pelo consolo dos enlutados. Afinal, uma pessoa “não cristã e do mundo” não
tem o direito de sentir tristeza e orar ou rezar pelas pessoas enlutadas? Não
estariam esses “cristãos” fazendo muito melhor se fossem, também, solidários e
orassem a Deus pedindo consolo aos familiares? Afinal, “... a oração de um
justo é poderosa e eficaz” (Tiago 5:16c). É preciso parar com a mania cristã de
“julgar as pessoas”. Isso é tarefa de Deus que conhece cada coração. Ao invés
de crítica... as pessoas precisam de consolo e ajuda. Isso é amor em ação. Quem
fala o que não deve, mesmo – e principalmente - como cristão, precisa ler,
reler e estudar Tiago 3, sobre o “domínio sobre a língua”. Há horas em que a
verdade tem que ser dita “nua e crua”. Há horas em que se deve calar;
principalmente diante de dor tão lancinante quanto à perda de entes queridos de
forma tão macabra e sem sentido.
Já que falei acima de se estudar Jó, completo: o que é que
fizeram os “santos religiosos” amigos de Jó, diante da sua incurável e quase
insuportável dor? Agiram como se fossem advogados de Deus, sem dEle terem
recebido procuração. Veja que esses “cristãos amigos” de Jó, receberam tremenda
reprimenda do próprio Deus.
Começo a pensar nos púlpitos evangélicos! Vejo a maior parte
dos programas televisivos (bobagem pura, quase todos). Visito amiúde igrejas
para saber o que se anda pregando. É de chorar amargamente! A maior parte dos
cultos, músicas, mensagens são pândegos. Não passam de catarses emocionais em
nome de Deus. As pessoas recebem na veia injeção de espiritualidade (sic) e
saem eufóricas. E tudo se acaba na primeira esquina da crise. As pessoas não
são ensinadas para encarar a vida e o mundo como ele realmente é: “no mundo
tereis aflições” (João 16:33). Há uma
enxurrada de “teologias” alheias à Bíblia, principalmente a da famigerada
“prosperidade”. Um passeio pelas letras
dos hinos e hinetos produzidos nos últimos tempos dá a certeza da mediocridade
teológica em que estão chafurdados os “levitas” modernos (Que barbaridade).
Deus vai pedir contas. Triunfalismo puro e barato... e feito em nome de Deus!
Outras vezes dando ordens a Deus!
Até parece que tragédias já não aconteceram em “templos
evangélicos”. Busque na internet e vai descobrir quantas tragédias aconteceram
nos arraiais evangélicos. Quantos tetos já desabaram? Quantos acidentes com
ônibus aconteceram? Foi Deus ou o diabo o culpado? Ora, é preciso levar a coisa
a sério. Deus não é brinquedo que se conduza ao prazer de “ventos de doutrinas”
espiritualizadas.
O Brasil está de luto novamente. Comoção nacional. Dor e mais
dor. O que fazer com ela? Que lições se podem tirar? Quem ou quais os culpados?
Ora bolas... culpados vão aparecer (quase nunca os verdadeiros). Mas, o que
importa isso? Vai apagar a dor da tragédia? Jamais. O que importa é: o que
fazer para que se evitem novas tragédias? Nada adianta culpar este ou aquele.
As lições é que são importantes. E elas precisam ser aprendidas.
Se isso serve de consolo... Jesus também chorou.
Chorou ao ver o estado deplorável da vida espiritual de Jerusalém. Chorou ao
ver a tristeza e o pranto de Marta e Maria por ocasião da morte de Lázaro,
irmão delas. Ele deu o exemplo. Ao sentir o choro da irmã do morto e dos amigos
presentes comoveu-se, foi até as lágrimas (João 11:33-36).
Igreja de Jesus Cristo... ouvi! O mundo não receberá o
impacto espiritual que necessita, enquanto a igreja não voltar à Bíblia. À sua
mensagem pura e divina. Sem profetismo, sem triunfalismo, sem apostolicismo,
sem teologias ocas e vazias e que não produzem cristãos de têmpera e, ao mesmo
tempo, com coração de carne e não de pedra.
Chorai com os que choram, ensina Jesus.
O mundo real está lá no vale das tribulações, dos problemas, das
tragédias. Não está no enclausuramento, na montanha, nos retiros. O mundo real
está no vale e chora. Chore com o mundo
e providencie, em Deus, o consolo que realmente ele necessita: o evangelho da
cruz de Cristo, que transforma e dá vida.
Junto-me... triste, taciturno, aos milhões de entristecidos pela
tragédia. Que aprendamos a evitar tais tragédias. Que Deus, no seu amor
absoluto nos console a todos. Principalmente aos enlutados de Santa Maria/RS. Nisto
eu creio. Amém.