Este articulista é pastor batista faz trinta e dois anos. Nos últimos anos tem se tornado prática a denominação de “Levita” àqueles que “comandam” o “louvor” na igreja. Também a moda pegou entre inúmeros “cantores” e “grupos musicais” da “música gospel”. O foco principal está nas igrejas neopentecostais e pentecostais; entretanto, a moda chegou, também, às igrejas históricas. Alguns até se intitulam “sacerdotes”, sem qualquer conhecimento do que isso signifique. Tenho, constantemente, ouvido que tais ministrantes da música são “Levitas do Senhor”. Há demasiada facilidade em judaizar o evangelho, num retrocesso teológico estapafúrdio em detrimento do Novo Testamento e seus ensinos onde o cerne é o amor, a graça e a cruz de Jesus Cristo.
Após profunda meditação, resolvi fazer algumas observações sobre o assunto. Sei que corro o risco de ser execrado pelos “irmãos levitas” modernos. Mas, não posso deixar de escrever sobre aquilo que está na Palavra de Deus. Não posso deixar de tentar esclarecer a falta de conhecimento e estudo da Bíblia.
Pra início de conversa esclareço que não há em mim qualquer tentativa de crítica pela crítica, nem ofensa a quem quer que seja. Lembro que os rabinos-sacerdotes-fariseus-saduceus judaicos dos dias de Cristo eram profundos conhecedores da “Palavra”: leis mosaicas, escritos, salmos e profetas. E, justamente estes, foram os maiores enfrentamentos de Cristo. Conheciam... mas, não sabiam. Conheciam... mas, não viviam. O que importava a eles era o que “achavam certo”; por interesses próprios, pelo poder da titulação sacerdotal e outros motivos escusos.
Também aqui, o assunto não é salvação. Ninguém está julgando a salvação de qualquer “levita moderno”. Por certo, muitos saíram do mundo do pecado, da prostituição, do homossexualismo, do crime, da corrupção e, agora, estão nas igrejas. Muitos servindo a Cristo de verdade... outros, se aproveitando da ingenuidade ou má vontade de líderes que apenas querem se locupletar da posição, e ou, benesses financeiras.
Não estou aqui afirmando que “se vai pro inferno” por ser “levita moderno”! Creio integralmente na Bíblia como a Palavra de Deus! Sei que há diferentes formas exteriores de adoração, de louvor, de ministração, de motivação. Sei, também, que Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb. 13:8). Só quero lembrar que ser pastor, apóstolo, bispo, sacerdote, levita, ou seja lá o que for, não é garantia de salvação, nem de vida aos pés de Cristo. Peço a você que leia atentamente o que disse o próprio Jesus em Mateus 7:21-23.
Então, como amante da Palavra e da Vontade de Deus e, na certeza de que é minha obrigação como “arauto” das verdades bíblicas, tentar esclarecer usos inadequados de ministérios e que tais, vou entrar por esses meandros e, muitas vezes, ínvios caminhos. Não há o que se contestar do agir de Deus... entretanto, tudo o que Deus quis revelar aos homens, fê-lo através de Sua Palavra, a Bíblia. Nada mais deve ser acrescido. Tudo que se precisa saber e fazer, lá está contido. É a ela que precisamos nos ater e não a esquisitices modernas ou retrocessos ao Velho Testamento. Os verdadeiramente salvos se importam com a verdade da Palavra e não a “ensinamentos de homens”.
Começo aqui, pois, uma série de artigos sobre o assunto. Não tenho a petulância de querer fechar questão, nem mesmo de convencer alguém. É apenas uma pena que escreve em prol daquilo que ensina a Bíblia. Creio que a pureza desta precisa ser preservada. O assunto é longo. Quero tratá-lo à luz da Bíblia. Por isso, volte ao blog até que todo estudo esteja concluído... embora, sempre estará inconcluso. Afinal, a Bíblia é uma fonte inesgotável, justamente por ser a infalível Palavra de Deus.
Ouvi, dia desses, um líder dizer que tivera uma revelação de Deus sobre costumes judaizantes. Isso é desmerecer grandemente a graça de Deus e tudo aquilo que Jesus fez. “Pois todos os Profetas e a Lei profetizaram até João” (Mateus 11:13 NVI). O Novo Testamento interpreta o Velho, para o cristão. Não o inverso. Paulo combateu grandemente isso. Ele enfatiza com grande clareza a “Lei do Espírito e da Vida” em Cristo. Vou começar pela “música gospel” até chegar aos levitas.
O GOSPEL E SUAS ORIGENS. O termo “Gospel” tem sua derivação do inglês antigo “God-spell” que, significa “boas novas”. Óbvio que traz a alusão ao “evangelho bíblico” que é “as boas novas” de salvação por meio de Jesus Cristo. O estudante bíblico sabe que o Novo Testamento foi escrito em grego koinê. Evangelho, do grego “euangelion” literalmente vertido para o inglês é eu (good) + angelion (message) que em português traduz-se “boa mensagem”. O grego clássico nos informa que “angelion” fazia referência a gorgeta que era entregue ao mensageiro/portador de uma “eu” (boa) mensagem (antigo correio). Nos dias de Cristo a palavra foi cunhada como “boa mensagem”. Portanto, o termo faz referência a literatura cristã antiga, como “boa mensagem”.
Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito. Entretanto, antes dele Paulo, o apóstolo verdadeiro, usou o termo “euangelion” em I Coríntios 15:1 ao dizer “... o evangelho que lhes preguei...”. No verso seguinte Paulo assevera que a salvação deles deu-se pelo “euangelion”. No século II da era cristã o bispo Justino Mártir em seu escrito “1 Apologia LXVI” (por volta do ano 155) asseverou: “... os Apóstolos, nas suas memórias escritas por eles, as quais são chamadas de Evangelhos”.
““ Euangelion” na LXX (septuaginta, grifo meu) ocorre somente no plural, e talvez somente no sentido clássico de uma recompensa pelas boas notícias” (II Sm. 4:10; 18:20,22,25-27). No Novo Testamento o termo aparece apropriadamente às circunstâncias das boas novas Messiânicas (Mc. 1:1, 14), provavelmente derivando este novo significado do uso euangelionem (Is. 40:9; 52:7; 60:6 e 61:1)” (Henry Barckay Swete, Introdução ao Velho Testamento. p. 456-57).
No Novo Testamento “evangelho” indica a proclamação da salvação de Deus por meio de Seu Filho Jesus, ou seja, pela mensagem do “ágape” proclamada por Jesus. Este é o sentido original no Novo Testamento e continua a ser usada ainda hoje. Portanto, “gospel”, em última instância é “boa mensagem ou boa nova”.
A MÚSICA GOSPEL E SUA RAIZ. Açambarcando vários estilos e nomes variados, a “música gospel” vem, na sua essência, da mesma raiz: a música cristã negra da América do Norte. Isso remete à lembrança do estilo fantástico do “negro spiritual”, com letras fantásticas e melodia sentida, sofrida e que imprimia uma espécie de catarse do sofrimento da escravatura e da libertação em Cristo. A consequência foi a proliferação de lindos corais e conjuntos no seio da igreja Afro-americana que foi exportado para a igreja cristã em todo mundo, dada sua beleza e profundidade.
A influência foi tão grande que a indústria milionária da música americana extrapolou da sua intenção genuína inicial, para uma preocupação quase única de “ganhar dinheiro”. Recebendo o rótulo de “gospel”, a música atingiu todas as camadas, principalmente as mais populares e continua a crescer vertiginosamente, sob os auspícios de um marketing muito bem feito. Entre os anos de 2003 até 2008, sete grandes gravadoras formataram divisões específicas e especiais para produzir a tal de “música gospel”. O que menos importava era a qualidade teológica e a fidelidade à sã doutrina; mas sim, o vender bem. Fora isso, as produções independentes praticamente duplicaram. A vendagem da “música gospel” simplesmente triplicou: foi de 180 milhões de dólares para 500 milhões em menos de dez anos. Essas informações são da revista Gospel Today. Boa parte das letras é escrita por gente que nunca leu a Bíblia.
Segundo a Wikipédia, Thomas A. Dorsey (1899-1993) é tido, por muitos, como o “pai da música gospel”. Ele foi importantíssimo pianista de Blues, conhecido artisticamente como Geórgia Tom. No site http://www.georgiaencyclopedia.org/nge/Article.jsp?id=h-1603; Ian Hill, da Universidade da Geórgia dá detalhes sobre o pianista, escrevendo textualmente: "Geórgia Tom" Dorsey, primeiro ganhou reconhecimento como um pianista de blues na década de 1920 e, mais tarde, se tornou conhecido como o “pai da música gospel” para o seu papel no desenvolvimento, publicação e promover o blues gospel”.
Dorsey era filho de um pregador itinerante e, desde cedo, foi exposto à música cristã de formato emocional. Sua mãe era respeitada organista. Por isso, Dorsey aprendeu a tocar bem cedo na vida. Com nove anos a família mudou-se para Atlanta, onde foi exposto à música secular e absorveu performances musicais famosas, tendo aprendido com pianistas famosos. Foi apenas um passo para tocar em teatros e bordéis e festas profanas em Atlanta, onde ganhou apelido de "Barrel House Tom", por óbvias razões.
Mudou-se para Chicago já com 17 anos (1916) e, quatro anos depois, publica sua primeira composição. Era a década de 1920 e ele ganha fama com a música “blues”. Em 1921 Dorsey retoma a música religiosa influenciado por W.M. Nix, que ouviu cantar na Convenção Batista Nacional. Em 1922 registrou sua primeira peça religiosa e, com isso, tornou-se diretor de música da Igreja Batista New Hope. Foi aí que ele fundiu a música sacra com sua técnica de “blues”, tornando-se o “pai da música evangélica blues”. Todavia, a necessidade de dinheiro afastou-o novamente da música “gospel”.
DORSEY E A MÚSICA GOSPEL. No final da década de 1920 ele ganha popularidade na comunidade religiosa após Willie Mae Ford Smith ter cantado “Se você ver meu Salvador”, dele; na Convenção Batista Nacional. Em 1931 foi contratado para organizar um coral na Ebenezer Baptist Church em Chicago. Um ano depois foi contratado pela segunda maior igreja de Chicago: Pilgrim Baptist. No mesmo ano Dorsey organizou e dirigiu grande performance para três corais de “blues gospel”. Isso lhe rendeu a fundação da Convenção Nacional de Coros Evangélicos da qual ele foi presidente até sua aposentadoria em 1983.
Sua esposa, Nettie Harper, morreu em 1932 durante o parto. Seu filho morreu no dia seguinte. Isso o inspirou a escrever “Take My Hand, Precious Lord (Segure Minha Mão, Precioso Senhor)”, sua mais famosa peça musical e a primeira canção religiosa a espelhar, liricamente, a emoção pessoal em suas composições de “blues gospel”. Essa música teve influência decisiva na vida de Dorsey. Quando Martin Luther King foi assassinado em 1968, a cantora Mahalia Jackson foi convidada a cantar e entoou essa música de Dorsey. Foi o marketing e a explosão que precisava a “música gospel”.
Nos anos 1930 e 1940, Dorsey fez célebres parcerias com Mahalia Jackson, Della Reese e Ward Clara, mostrando ao mundo o trabalho “gospel” de Dorsey e, por isso, foi cunhado como “pai da música gospel”.
Continuo a reflexão no próximo número, se Deus assim o permitir.
Meu amigo você me conhece, e sabe o quanto de admiro! Creio que pessoas como nós que gostamos das coisas como deve ser,tem que se manifestar sim.Continue assim.E escreva também em nossa pagina do grupo de igreja batista monte castelo.Será um imenso prazer.Abraço amigão.
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