Pode parecer que o título acima seja inadequado para um artigo teológico. O que é que Deus tem a ver com tumores e ratos? Bem... antes de continuar a leitura deste texto vá até a Bíblia. Sim, aquela que está esquecida em uma prateleira. Aquela que quase não é lida. Eu posso esperar... vá, pegue-a. Agora abra em I Samuel 6:1-9. Leia com atenção. Já fez isso? Bom, muito bom. Mas, não basta. Antes de continuar a leitura deste artigo, por favor, leia agora os capítulos 4 e 5 de I Samuel para entender o que foi que aconteceu. Leu? Que Deus o abençoe. Agora pode continuar a ler este artigo. Não leu? Não quer ler? Então, por favor, não continue a ler este. Bem, se você está a ler agora, significa que leu o texto bíblico. Então, em frente!
Israel saiu à guerra contra os filisteus. O pecado grassava nas hostes israelitas. A desobediência era latente. Deus havia sido deixado de lado. A religião era puramente de aparência e hipócrita. Apenas um amuleto esperando as benesses de Deus. Religião de aparência! No primeiro enfrentamento quatro mil mortes (4:1-11). Logo vem a interrogação: Por que nos derrotou o Senhor? Pergunta hipócrita de uma religiosidade hipócrita de uma religião de aparência. Ora, Israel sabia que todas as suas derrotas eram conseqüências da quebra das Leis de Deus. Já deviam ter aprendido isso.
Foi aí que surgiu a genial ideia: Vamos levar a Arca da Aliança. Pensaram que Deus se veria obrigado a salvá-los por amor à Arca. A “Arca da Aliança” foi utilizada como amuleto. Israel fez da Arca um talismã, um fetiche. Acreditava mais na aparência do que no Deus da Aliança. Assim fazem muitos hoje. Acham que por apenas lerem a Bíblia, ou carregá-la, ou “assistir” aos cultos, ou serem dizimistas que Deus se vê obrigado a dar vitória. Ledo engano de uma religião de aparência. O resultado foi uma cruel derrota para os filisteus e a morte de trinta mil soldados.
Muito pior foi que a Arca foi roubada pelos Filisteus. Depositaram-na no templo do seu deus Dagom. A ARCA era símbolo da presença de Deus. Era, para os Israelitas, a garantia da morada de Deus com eles. Todavia, não entendiam, ou não queriam entender, que a Arca era símbolo da presença e não a presença. A presença de Deus dependeria de que o povo andasse na verdade e compromissados com Ele... não metidos com ídolos pagãos. A segurança estava na certeza de que Deus estaria satisfeito com as ações desse povo.
Da mesma forma, a segurança de que Deus anda e protege o Seu povo hoje está no fato de Ele estar satisfeito com Seus filhos e não no fato de haver uma “igreja” bonita, um “púlpito” eloqüente ou um povo que “faz barulho” em nome de Deus; nem mesmo que participe da “marcha para Jesus” que, hoje é tudo... menos Marcha para Jesus. Fidelidade é tudo. Os “crentes” hebreus não resistiram à influência da idolatria; assim como os “crentes” hodiernos não resistem à influência do meio social e cultural em que vivem. A maioria dos cristãos dos dias atuais tem ídolos: cantores “gospel” (nem sabe o que isso significa); artistas da TV; jogadores do seu esporte preferido; figuras políticas e, o que é pior, seus líderes “espirituais” (pastores, bispos, apóstolos (sic) e quejandos). Andam por caminhos ínvios... não pelos caminhos da cruz de Cristo.
Por confiarem no “poder da Arca”, símbolo da presença de Deus, os israelitas sofreram retumbante derrota. A vergonha foi ainda maior. A derrota de Israel era a derrota do seu Deus, face a Dagom, o “deus” filisteu. A igreja, o templo, a Bíblia, o líder, como amuletos; de nada valem na hora cruel dos ataques satânicos. Fidelidade pessoal a Deus é tudo que importa. E isso é pessoal.
Que lição preciosa Deus estava dando ao Seu povo Israel. Que lições Deus continua a dar àquele que se diz Seu povo hoje. Pena que, quase sempre, a Bíblia é lida de forma superficial. Não se “nada mais em águas profundas”. A superficialidade grassa. Mas, se Deus estava dando preciosa lição para Israel e posteridade cristã... também a daria aos agressores de Israel e do próprio Deus. Com Deus não se brinca. Dele não se zomba. Aparentemente o Deus dos israelitas estava aprisionado, derrotado. A Arca, símbolo da Sua presença santa fora levada cativa.
A Arca é instalada dentro do templo de Dagom, ao lado da estátua deste (5:1-5). No dia seguinte a Arca está no mesmo lugar, mas a estátua de Dagom está estatelada com a “cara no chão”, diante da Arca do Senhor! Deus não suporta a idolatria. Só Ele é Deus. “Não terás outros deuses além de mim” (Êxodo 20:3 NVI). Dagom foi levantado e colocado no seu lugar. Dia seguinte Dagom foi encontrado, novamente, caído por terra. Desta feita com cabeça e mãos quebradas... corpo, cabeça, mãos, todos prostrados diante da Arca do Senhor. Jeová, e tão somente Ele, é Deus! E ponto final!
Deus começou demonstrando quem é o verdadeiro Senhor. Arrasou o “deus” filisteu, despedaçando-o em sua própria casa. Por pressão, a Arca peregrina por cinco cidades dos filisteus. O texto bíblico informa que, por onde a Arca passava, a população sofria com tumores e, possivelmente, peste bubônica, oriunda de ratos em excesso que surgiram ao passar do precioso símbolo da presença do Deus de Israel. A Arca, símbolo de proteção e bênção divina para Israel, transforma-se em maldição e doença para o agressor. Apenas o símbolo da presença de Deus, transformou-se em horror para toda uma nação. Com Deus não se brinca. E, a maioria dos cristãos modernos, continua “brincando” de ser “filhos de Deus”.
Há quem não suporte a presença de Deus. Ele é santo. Santidade não combina com pecado, com hipocrisia, com religião de aparência. Por isso, os sacerdotes de Dagom deram “sábio” conselho: devolvam a Arca. Mas resolveram tentar “enganar” a Deus. Como se isso fosse possível. A devolução deve ser acrescida de presentes. Um carro novo dotado de um cofre com cinco tumores de ouro puro e mais cinco ratos, também de ouro. Achavam que o que Deus queria eram ofertas, oferendas de valor. Ledo engano. Deus é o dono de tudo, inclusive do ouro e da prata. Deus não precisa de presentes. O que Ele quer – e sempre foi assim – é a fidelidade dos seus filhos. O que Ele quer é o coração, o desejo, a vontade; para que seja servido... por amor (Provérbios 23:26). E toda Sua vontade está exarada na Sua Palavra, a Bíblia. E em nenhum outro lugar. Não está nas profecias (ou profetadas) modernas; nem nas “revelações” satânicas (é isso mesmo, satânicas) sem qualquer respaldo bíblico. Toda vontade de Deus está revelada na Bíblia.
Não posso deixar de fazer aqui, algumas reflexões importantes, diante do descalabro teológico que tenho visto grassar igrejas e “tevês” afora. Não tenho qualquer intenção de agradar quem quer que seja. Só quero agradar ao meu Deus. Infelizmente a igreja cristã moderna, na sua maioria, está descaracterizada. Há a urgência de uma reforma por dentro. Algumas lições sobre o texto em apreço são necessárias.
Os sacerdotes (religiosos) filisteus devolveram a Arca sobre “carros novos”. Não é isso que tem acontecido com a maioria dos “religiosos” (sic) conhecidos? Por acaso o “evangelho” que é transmitido não é feito sobre “carros novos”? Deus instruíra a Israel como devia ser carregada a Arca. Tinha que ir sobre os ombros e ombros especiais: dos levitas, separados especialmente para essa missão. Nunca sobre “carros novos”. Deus não aceita acréscimos ao Evangelho de Jesus. O Evangelho não pode ser falsificado, adulterado, envenenado. Deus não aceita o “carro novo” de inovações humanas. Jesus - e o Seu Evangelho -, é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hebreus 13:8).
O Evangelho “carro novo” tem conduzido milhares pela “porta larga” da perdição, da catarse emocional, do barulho, do prazer, da riqueza, da felicidade nas coisas materiais. Foi o próprio Senhor Jesus – não o do carro novo – quem disse: “... e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mateus 10:38 NVI). Leia também Mateus 16:24-28). Com Deus não existe barganha. Hoje as pessoas não renunciam a si mesmas. Lamentável!
Mas a genialidade dos sacerdotes (religiosos) filisteus vai ainda mais longe. Não bastava carro novo. Era preciso um cofre seguro; afinal, ninguém podia roubar. Dentro dele dez peças de ouro puro: cinco réplicas de tumores e cinco réplicas de ratos... tudo de ouro. Coisas esdrúxulas, estranhas, nauseabundas. Para que Deus quereria isso? Isso é falta de conhecimento de Deus.
Mas, pergunto: o que vejo no “evangelho” pregado hoje? O que é que vejo na televisão? O que vejo nos “louvorzões”? O que vejo nos “encontros com Deus”? O que vejo nas “marchas para Jesus”? O que vejo nos programas “gospel”? O que vejo na maioria das mensagens pregadas nos púlpitos modernos? Meu Deus... o que é que vejo? Vejo coisas estranhas, esdrúxulas! Vejo tumores e ratos por todo lado. E o pior de tudo é que esses programas, mensagens e cultos “tumores” e “ratos” parecem que estão conduzindo a Arca... como se Deus estivesse ali. E não está!
O que tenho visto por aí? Bem, basta querer ver. Dia desses um “bispo” diz ter ido “em espírito” até os céus. Lá, teria falado com Cristo que ordenou que o “dito cujo” pegasse uma grande vasilha com óleo e dentro gotejou um pouco do seu sangue! Pasmem! Agora, vidrinhos desse óleo contendo o sangue de Cristo seriam distribuídos aos “fiéis”. Lógico que era contra o deixar de “uma oferta voluntária”. Aqui em Porto Velho, um determinado “bispo” de uma dessas igrejas televisivas embasado na “sua Bíblia” anunciou semana inteira que entraria, no domingo seguinte, no tanque (batistério) da sua igreja e “agitaria” as águas como fazia o anjo no tanque de Betesda (João 5). Afirmou ainda, como se Deus fosse, que todos aqueles que entrassem no tanque que ele (o bispo) tivesse entrado e agitado as águas, também seriam curados e teriam seus problemas resolvidos. Lógico que o preço seria uma “oferta voluntária” também.
Apóstolos há – e todos sabemos disso – que vendem toalhinhas com o suor do “deus apóstolo”. Há os vidrinhos com água do Rio Jordão. Há as lascas da Arca de Noé. Há as ofertas correspondentes aos anos da vida da pessoa, em troca de promessa de prosperidade. Há a meia do apóstolo. Há o perfume consagrado na gruta abençoada. Há as sessões de descarrego com o pisar do sal grosso ungido (muito comum aqui em Porto Velho). A lista de aberrações teológicas e demoníacas prossegue interminável: rosa ungida; lenço da cura; Leão de Judá Cola, o refrigerante; travesseiros abençoados; roupas dos parentes doentes para serem ungidas; fotografias para descarrego; problemas escritos em papéis para serem cravados na cruz ungida dentro do templo. Ufaaaaaaaa! Melhor parar por aqui, pois ainda há muitos e dantescos “tumores” e “ratos” para tentar enganar a Deus e ao povo incauto. Deus vai pedir contas de tanto demonismo em nome de Jesus. Hoje até já existem humanos religiosos que se intitularam “querubins”.
Essas coisas todas são amuletos. Tornam-se idolatria. Deus não admite isso. Deus não precisa de coisas esdrúxulas. O evangelho de Cristo é simples, direto, objetivo e transformador. É uma questão de fidelidade. A fé verdadeira não precisa de muletas. A leitura atenta do capítulo 7 de I Samuel vai informar que o povo de Israel “buscou ao Senhor com súplicas (vs. 2)” e foi instado por Samuel a “voltar-se para o Senhor de todo coração, livrem-se então dos deuses estrangeiros e as imagens (...) consagrem-se ao Senhor e prestem culto somente a Ele, e Ele os libertará... (vs. 3)”. A seguir fizeram o que Deus queria. “Naquele dia jejuaram e ali disseram: ‘Temos pecado contra o Senhor’”. A sequência do texto vai mostrar que “houve paz em Israel” (vs. 14).
Todas essas muletas que o “evangelho” falsificado tem provido por meio de liderança religiosa utópica, quimérica, hipócrita, mentirosa e de aparência não passam de “tumores” e “ratos” que não agradam a Deus. Apenas trazem, a seu tempo, maldição. É pecado e leva multidões ao inferno, juntamente com seus líderes religiosos que se enriquecem para a vida nababesca deste mundo. Lá diante do Senhor, no grande dia dirão: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então eu lhe direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal” (Mateus 7:22-23 NVI).
Com profunda tristeza o que se vê é o evangelho simples de Jesus ser vilipendiado nos arraiais chamados evangélicos. Só têm sobejado os tumores e os ratos... de todas as etiologias.
Vou encerrar esta reflexão reproduzindo parte de um pequeno escrito colhido no facebook do meu amigo particular, irmão em Cristo, servo de Deus e pastor, desses poucos de boa cepa espiritual que ainda existem hoje, Pr. Jease Costa de Moraes. Ele escreveu: “Deus chora ao ver o nome do evangelho ser enxovalhado por supostos pastores, levitas que somente querem elevar os seus próprios nomes e fazer da palavra de Deus um meio de enriquecer, mas esquecem que um dia o Rei os chamará para que lhe prestem contas e aí gritem, chorem que ninguém os salvará, pois Ele não terá misericórdia destes”.
Evangelho verdadeiro não precisa de “tumores”, nem de “ratos” de ouro. Precisa de homens e mulheres transformados e compromissados com Jesus Cristo. Tenho dito. Que Deus a todos abençoe ricamente. Amém!