Paulo é o maior tradutor da prática do evangelho de Cristo. Cristo sempre foi o seu exemplo maior. O apóstolo foi o único ser humano que teve a ousadia de dizer: “Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo” (I Coríntio 11:1). Por viver a vida de Cristo diuturnamente, explica com muita propriedade a humildade que deve ter o seguidor de Jesus Cristo; e o faz apontando para o próprio Jesus. “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Filipenses 2:5-8. NVI).
Cristo, sendo Deus, esvaziou-se de toda divindade... até ser servo, a ponto de lavar os pés de pessoas tão pecadoras como eu. Assentou-se e comeu com mendigos e toda escória da sociedade. Esvaziou-se... e, por isso, Deus o Pai, o encheu, o exaltou o glorificou. “Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Filipenses 2:9-11).
Isso é exemplo. O próprio Jesus foi o exemplo maior. Paulo o imitou como ninguém. Na vida cristã, obrigatoriamente, é preciso primeiro o esvaziamento para que haja enchimento. Isso é definitivo. Por isso, não posso entender o tipo de evangelho e liderança espiritual grassando nas lides cristãs. Os caminhos ínvios estão proliferando... e a verdadeira igreja de Jesus Cristo, transformando-se em palco de sandices em nome de Deus.
Veja o exemplo do bispo líder e fundador de uma igreja “denominada evangélica” brasileira. Lançou recentemente um livro que já é “Best seller” não apenas no Brasil, mas onde a igreja tem proliferado. Ouço de pessoas da própria igreja que os fiéis são “obrigados”, ou forçados, a comprarem quantas edições puderem. Assim, vira “Best seller” mesmo.
Jesus, por acaso, escreveu algum livro sobre si mesmo? Se Ele vivesse hoje, escreveria? Ainda mais, será que se fizesse sua biografia exaltaria suas qualidades acima de todas as revelações transmitidas pela Sua Palavra, a Bíblia? Veja o que Paulo escreveu sobre isso em Filipenses 2, acima mencionado. Ele esvaziou-se... e Deus, o Pai, o exaltou.
Ao esvaziar-se para tornar-se um como nós, Jesus trabalha durante pouco mais de três anos alicerçado no tripé constante em Mateus 9:35: ensinando, pregando e curando. E, sempre que curava ordenava que não seus feitos não fossem divulgados. Ele não queria holofotes. Ele esvaziou-se de qualquer coisa que não fosse ser servo. Sua intenção sempre era “fazer a vontade do Pai”. Hoje, o líder “Nada a perder”, bem como todos os outros que grassam por aí, são egocêntricos e suas intenções vão muito além de servir a Cristo e fazer a Sua vontade.
Pelo contrário, o desejo é construir catedrais faraônicas, moram em verdadeiros palácios, possuem canais de televisão, jornais, rádios, jatos particulares, limusines, seguranças... enquanto Cristo não tinha onde “reclinar sua cabeça”. Nada contra ter carros, aviões, casa bonita ou gorda conta bancária. Mas, não à custa dos fiéis e de satânicas mentiras em nome de Deus. Enriquecer em nome de Deus é pecado e, pior ainda, mentindo para milhões de pessoas simples que se sacrificam em nome de Deus.
Jesus, aquele que se esvaziou, ensina sobre fugir dos holofotes. Quanto mais se sobe no conceito humano, menos se esvazia da soberba e, consequentemente, a espada do juízo de Deus pesará sobre os tais. Jesus ensina isso claramente no final do sermão do monte (Mateus 7:20-23). Em Lucas 14:7-11, ao ser convidado para uma festa na casa de um Fariseu importante, Jesus estabelece critérios desconhecidos pela peçonhenta liderança de tais redutos evangélicos. No verso 11 Jesus conclui de forma contundente: “Pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado”.
O título “Nada a Perder” é realmente sugestivo. Pena que a verdade e realidade do famoso bispo não reflitam isso. O verdadeiro cristão não tem nada a perder quando, a exemplo de Cristo (Filipenses 2), se esvazia de si mesmo e se permita encher pelo Espírito. O cristão não tem nada a perder quando seu foco de vida não são os holofotes, mas Cristo e Seu evangelho. O servo nada em a perder quando seu modo de vida não é a luta desesperada por riquezas... mas o compartilhar o que tem com os irmãos e os menos afortunados. Eu não tenho nada a perder a partir do momento em que auto produzo minha biografia, para que os holofotes se foquem em mim... e Cristo seja elemento secundário. “É necessário que Ele cresça e que eu diminua” (João 3:30 NVI). Que importam para o verdadeiro servo qualquer perseguição, afronta e até mesmo a morte? Nada poderá ser comparado ao horror e sofrimento de Cristo.
Policarpo, C. S. Lewis, Richard Wurmbrand, Dietrich Bonhoefrer, pastor Youcef; mártires por amor a Cristo, não escreveram nem pediram para que suas autobiografias fossem escritas. Ninguém perde nada quando doa sua vida pela causa de Jesus, pois adquire a vida eterna ao lado do Salvador amado. Por que buscar a glória terrena? Por que buscar o reconhecimento midiático, o nome na história, os louvores humanos? Por que usar a mídia comprada com recursos de “fiéis” enganados para lustrar o próprio nome? Por que pregar cura, libertação, prosperidade o tempo todo e a salvação, a servidão a Cristo ser relegada a lugar nenhum?
Preciso fazer outra observação. No olho do furacão político está um famoso pastor evangélico. Pessoas há que o seguem cegamente... o que não fazem com Jesus Cristo! Não quero focar em suas afirmações bíblico-teológicas com relação ao preconceito e homofobia. Temos concordâncias e discordâncias. Todavia, levando em conta o foco deste artigo, mesmo “pastor deputado” (Que Deus nos proteja), causa tristeza profunda e indignação ao meu coração. Como pode transformar assim o puro, santo e melífluo evangelho de Cristo. O evangelho da graça inefável. Vi e ouvi estarrecido pela net a seguinte fala dele: “-... doou o cartão, mas não doou a senha, aí não vale. Depois vai pedir o milagre para Deus e Deus não vai dar... Vai dizer que Deus é ruim!”
Não quero e não vou entrar no mérito da doação. Ter um coração e bolso aberto para o evangelho é sinal de desapego às coisas materiais. Mas, a afirmação acima não passa de um terrorismo psicológico terrível. É vincular as bênçãos de Deus a produtos materiais. É deturpar violentamente a verdade bíblica. Não vislumbro na Bíblia a troca de dízimos e ofertas por quaisquer bênçãos. Deus não é um Deus de negociatas... ainda mais as escusas. O verdadeiro crente sabe que, por princípio, o dízimo é o começo. Tudo é de Deus, por Ele e para Ele. O verdadeiro crente não precisa sofrer terrorismo psicológico desse naipe. Ele sabe que tudo que é e tem precisa estar à disposição do seu Senhor. O verdadeiro crente oferta, dizima, abre sua casa e tudo que tem... POR AMOR! Se não for por amor, não há valia alguma. Paulo deixa claro esse ensinamento ao colocar: “- Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria” (II Coríntios 9:7 NVI).
Seria muito mais digno que os tais bispos, apóstolos, pastores e quejandos se humilhassem e “pedissem o boné” definitivamente. A igreja de Jesus Cristo é coisa séria. Esses líderes precisam ler e meditar profundamente em Mateus 7:21-23 (insisto sempre nesse texto). Pastor tem um chamado específico: pregar o evangelho, visitar os órfãos e viúvas e ajudar quem precisasse. Esses líderes desvirtuaram completamente uma vocação divina. Igreja é para quem tem compromisso total com a verdade do evangelho. Ser líder de igreja é servia Cristo e a ninguém mais. Servir a Cristo não é chafurdar-se em um sistema político eivado de corrupção e heresias. Homens e mulheres de Deus precisam ser preparados para a política. Pastores e líderes religiosos foram chamados para uma missão evangelizadora. O que passar disso é pecado e, por isso, dar-se-á contas a Deus.
Jesus precisa de pessoas consagradas, destemidas, leais, fiéis e que paguem o preço da sua incorruptibilidade e não negociatas com o mundo. Jesus não precisa de conta em banco, nem de cartões de crédito. Jesus precisa de vidas no Seu altar!
Muito mais digno foi o papa Bento XVI, que não tendo condições políticas (e quem sabe espirituais) de resolver os profundos problemas e dilemas do catolicismo resolveu “pedir o boné”. Isso não é sinal de fraqueza. É sinal de hombridade e de caráter. Tenho todas as discordâncias teológicas e bíblicas com a Igreja Católica, mas sei reconhecer atos altruístas e verdadeiros... de quem quer que sejam.
Esvaziar para Encher! Esvaziamento da soberba, da mentira, dos holofotes, da enganação, do adultério espiritual, da auto midiatização em busca do poder a qualquer custo. Evangelho não é mercadoria... é vida! Ser e não ter! Crer e não ver! Evangelho é amor, é santificação. É, cada um carregar a sua cruz! É despojar-se de si mesmo. O texto de Mateus 19:21 tem validade apenas para os fiéis... jamais para esses líderes. Jesus disse ao jovem rico: “-Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me”. Imagine Jesus dizendo isso para tais líderes.
Esvaziar para Encher! Encher-se do Espírito Santo. Encher-se de humildade. Encher-se de sabedoria vinda de Deus. Encher-se de amor aos perdidos, aos pobres e as viúvas. Encher-se da graça de Deus. Encher-se da grandeza de esvaziamento de si mesmo e de enchimento de Deus. Que assim seja. Amém!